Charles Manson, Montanhas e os Novos Líderes Espirituais: Até Onde Vai à Manipulação?
(Ou: como transformar trilha com choradeira em seita gourmet com Wi-Fi e Reels)
Nos últimos dias, resolvi mergulhar em dois universos que aparentemente não têm nada a ver, mas na real são primos de primeiro grau no quesito “manipulação travestida de transformação”. Um é a história de Charles Manson, o cara que convenceu uma galera a cometer assassinatos usando carisma, violão e um olhar meio bugado. O outro é um tal de “Legendários” um movimento onde um grupo de homens adultos, com acesso à internet e a noção básica de higiene, paga uma nota para escalar montanhas e “encontrar Deus”.
"Charles Manson era maluco, sim. Mas burro? Nunca."
Era sim. Mas também era estrategista, sedutor, e sabia usar palavras como armas. Ele não gritava, ele acolhia. Ele não dava ordens, ele dava propósito. Porque nada embriaga mais do que a sensação de pertencimento quando você está no fundo do poço emocional.
Adivinha quem mais faz isso? Os novos “líderes” que te prometem encontrar Deus depois de 12km de subida íngreme e uma noite dormindo no chão duro igual seu senso crítico.
A montanha como caminho espiritual™
Eu fico pensando: desde quando Deus ficou VIP? Desde quando Ele só atende se você estiver suando em bando, com dor nas costas, cercado por homens chorando num frio de matar urso?
Deus virou o quê agora, um chef Michelin que só se encontra em lugares exclusivos com reserva antecipada e boleto quitado?
Spoiler: Deus não está numa trilha com trilha sonora do Hans Zimmer no fundo. Deus está no caos do seu dia a dia. No banho de 4 minutos antes do trabalho. Na culpa por não ler mais. No silêncio que você não suporta. Ele está onde você para de mentir para si. E, surpresa: isso não custa R$3.497 em 12x.
A fórmula é velha, só o branding mudou
Homem carismático? Check.
Promessa de transformação? Check.
Público vulnerável buscando rumo? Check.
Agora com edição em 4K, drone sobrevoando cachoeira e frases do tipo “você é seu maior inimigo” em fonte serifada.
É o mesmo script de 1969, só que agora tem filtro vintage e trilha no Spotify.
E quem questiona?
Quase ninguém. Porque pensar dá trabalho. Porque refletir é desconfortável. E porque a verdade não tem efeitos visuais, não dá engajamento, e não vem com café da manhã incluso no topo da montanha.
Finalizando com o chute no peito:
Para mim? Charles Manson e esses movimentos são irmãos de alma.
Mesma essência, nova embalagem.
Menos sangue, mais boleto.
Menos cult, mais coaching.
Mas o fim é o mesmo: pessoas guiadas por um ego maquiado de iluminação.
A pergunta é:
Você está buscando Deus… ou só seguindo mais um perfil que diz que sabe onde Ele está?